(des)encontros com o jazz (e música improvisada) em Portugal #04, 29 de Julho de 2022

(des)encontros com o jazz (e música improvisada) em Portugal #04

“Som Livre na noite Portuguesa”: Jam session na Renascença

texto: Pedro Cravinho

No quarto texto da sua rubrica “(des)encontros com o jazz (e música improvisada) em Portugal”, o investigador Pedro Cravinho recorda a histórica vinda a Portugal, em maio de 1970, do Modern Jazz Quartet, a convite da Fundação Calouste Gulbenkian, inaugurando uma relação com o jazz que se mantém na atualidade (a edição de 2022 do Jazz em Agosto arranca amanhã). E não esquece uma jam session com Gilberto Gil…

Em Maio de 1970, portanto, há mais de meio século, chegava a Lisboa o Modern Jazz Quartet. A presença em Portugal deste quarteto, liderado pelo pianista John Lewis, resultou de um convite endereçado pela Fundação Calouste Gulbenkian, depois de decidir incluir “música de jazz”, pela primeira vez, desde 1957, no prestigiado festival de “música séria” em Portugal. Talvez por ser a primeira vez que outro género musical iria ressoar nos palcos do festival, a escolha foi o Modern Jazz Quartet. Tocavam, de acordo com críticos em ambos os lados do Atlântico, “jazz de câmara” e apresentavam-se em palco em black tie dress code.

Independentemente das razões, importa destacar que a presença em Portugal dos quatro africanos-americanos, John Lewis (piano), Milt Jackson (vibrafone), Percy Heath (contrabaixo) e Connie Kay (bateria), não passou despercebida no meio jazzístico nacional. Dedica-se esta rubrica “(des)encontros com jazz (e música improvisada) em Portugal”a essa visita e às dinâmicas geradas dentro e fora do(s) palco(s), recorrendo a fragmentos de textos da época, complementados pelo registo de alguma(s) memória(s).

Na época, a Directora do Serviço de Música da Fundação, Maria Madalena Azeredo Perdigão, explicava que «dois tipos de causas justificaram a presença do jazz no 14.o Festival Gulbenkian de Música. Como causa remota, já há vários anos que se pensava nesta inclusão, dada a importância do jazz no panorama da música moderna e a sua influência na chamada musica erudita. A causa próxima é este ser o primeiro festival realizado na nossa própria sede, um lugar que queremos que seja uma autêntica sede cultural aberta a todos, aos jovens, um centro de cultura. O jazz é uma manifestação artística séria e não podíamos adiar mais; estávamos em nossa casa.»

Entretanto, no Diário de Lisboa anunciava-se: «Hoje pelas 18h30, actua no Grande Auditório da Gulbenkian o austero, refinado, sofisticado Modern Jazz Quartet – sem dúvida um dos mais famosos conjuntos de jazz de todo o mundo. Na pacata Lisboa musical, a presença do M.J.Q. é acontecimento em caixa alta.» Sem dúvida, acontecimento assinalável: um concerto de “música de jazz” no palco da “música séria” na pacata capital de um país que se movia a distintas velocidades, atrasado e isolado do exterior, teimosamente envolvido numa longa e devastadora guerra colonial/independência, para a qual eram enviados compulsoriamente milhares de jovens, praças, sargentos e oficiais, alguns com a divisa da Escola que os formaram, Dulce et Decorum est Pro Patria Moris (“Doce e honroso é morrer pela Pátria”).

Na metrópole, nos receptores de televisão espalhados pelos principais centros urbanos e litoral, @s artistas e canções do 7.o Grande Prémio da Canção Portuguesa atraíam as atenções de muit@s telespectadores portugueses. Outros, eram os jogos e selecções que iriam participar no Campeonato Mundial de Futebol “México 70”. Descrevia-se o jogo da selecção brasileira: «como no jazz improvisemos... como ideia base para o estilo de jogo dos jogadores da terra de Pelé aponta-se a improvisação.» Os futebolistas brasileiros eram «como os bons executantes de jazz, cada componente da selecção brasileira é um criador... capaz de... inventar um lance nunca antes adivinhado sobre o relvado.» No cinema Roma (matinée e soirée), a atração era o “West Side Story”, um filme de sempre! (para adultos).

Fora dos ecrãs, no dia seguinte ao último concerto do Modern Jazz Quartet, no Diário do Governo era publicado um novo decreto-lei que abolia a licença para o uso de isqueiro na via pública. A imprensa portuguesa informava que a partir de 1 de Junho de 1970, finalmente seria possível usar o isqueiro na rua «sem medo da multa.» (Re)lembra-se que desde 24 de Novembro de 1937 (exacto, durante 33 anos) vigorava o Decreto-Lei n.o 28 219, o qual «proibia o uso ou simples detenção de acendedores ou isqueiros que estejam em condições de funcionamento quando os portadores não se achem munidos de licença fiscal». Simultaneamente, nos jornais, pedia-se tolerância aos fiscais para que nos centros urbanos «não multarem os portadores (sem licença) de isqueiros, embora a regalia», entrasse em vigor cinco dias depois. Mas voltemos ao jazz, ao MJQ e ao festival Gulbenkian.

A iniciativa contou com o apoio dos Serviços de Informação e Assuntos Culturais da Embaixada do Estados Unidos da América em Lisboa, e os principais meios de comunicação. No Diário de Lisboa, em páginas organizadas por Raul Vaz Bernardo e José Duarte, era dado a conhecer o Modern Jazz Quartet, dados biográficos dos quatro membros e sua discografia. Incluía ainda entrevistas a várias individualidades «sobre a inclusão de jazz no festival?» Transcrevem-se fragmentos de algumas dessas entrevistas no sentido de compreendermos como tal iniciativa foi acolhida por certas individualidades ligadas meio musical português.

As opiniões; Carlos Parga (Gerente dos Estabelecimentos Melodia [Lisboa: Rua do Carmo, 23| Porto: Rua de Santa Catarina, 360 | Rua de Santo António, 35]): «A vinda a Portugal do M.J.Q. é uma medida muito útil. Duas ou três pessoas a divulgarem jazz entre nós não são suficientes. O Hot Clube de Portugal, por sua vez, é um clube de minorias. É necessária, pois, uma maior projecção do jazz. Nos últimos anos as vendas de discos de jazz têm aumentado, mas os clientes são sempre os mesmos.» Afirmações interessantes sobre o mercado fonográfico nacional e as vendas dos discos de jazz no início da década de 1970. (Sobre um panorama na década de 1990, ver aqui.)

Thilo Krassman (músico): «Só é pena que não tivesse sido há mais tempo... Desejo a esta iniciativa a melhor continuidade, embora preferisse, em vez do M.J.Q., o grupo do saxofonista Cannonball Adderley, o qual me daria mais gozo. Ou então, e na mesma linha, um grupo de concepções mais avançadas – o do vibrafonista Gary Burton.»

Jorge Lima Barreto (estudante): «A vinda do M.J.Q. e a sua integração num programa deste tipo vem permitir a inclusão do jazz na estética musical das elites burguesas. E por isso inverter toda a força transformadora que é característica inalienável do jazz moderno.»

João José Cochofel (crítico musical): «Pois acho muito bem. Aliás, não achar bem seria de um purismo inadmissível. Jazz é um fenómeno importante, como a valsa ou o minuete. Com a sua influência. É um facto artístico primário (como o folclore) antes de modificado, de adaptado a música dançante. Aliás, há que distinguir entre o folclore autêntico e o folclore em contrafacção. Penso que o jazz não tem a categoria que muitos lhe querem atribuir.»

Correia de Figueiredo (Presidente da Direcção do Hot Clube de Portugal): «Considero muito importante a vinda até nós do M.J.Q. mas, mais importante ainda, o facto dos concertos serem organizados pela Fundação Gulbenkian... Espero que no futuro, a organização de concertos de jazz ganhe uma certa regularidade... O H.C.P., actualmente o único clube (não comercial) português de jazz, expressa a sua satisfação.»

Carlos Lemos (Secção de jazz da Juventude Musica Portuguesa de Coimbra): «JAZZ no festival Gulbenkian é um facto que pode ser analisado por dois prismas: ou reconhecimento pela Fundação da necessidade de preencher essa lacuna da cultura musical em Portugal ou a necessidade da Fundação se colocar à la page com os figurinos dos festivais europeus. Esta opinião é determinada pela escolha do M.J Q. Hoje em dia para se divulgar jazz como musica problemática, não se escolhe o M.J.Q. É uma escolha incorrecta, um compromisso... Miles Davis ou Ornette Coleman seriam os verdadeiros mensageiros...» Curiosamente, os artistas propostos por Carlos Lemos, tocaram, precisamente, no ano seguinte, em Novembro de 1971, no primeiro Festival Internacional de Jazz de Cascais.

Raul Calado (crítico, fundador do Clube Universitário de Jazz, realizador de “Tempo de Jazz” na Emissora Nacional): «Jazz no festival Gulbenkian! Claro que é, para os amadores portugueses a consagração, o reconhecimento do jazz como forma artística e representativa da música do nosso tempo... importante no festival Gulbenkian deste ano é o festival do próximo ano.» Infelizmente, as palavras de Calado precediam o desfecho do festival. A administração da fundação, concluída a 14.ª edição, decidiu cancelar o Festival Gulbenkian de Música, alegando restrições orçamentais originadas pela crise petrolífera internacional.

Os concertos; o primeiro teve lugar numa quinta-feira, ao final da tarde, com o Grande Auditório da Fundação «repleto – uma demonstração plena da expectativa despertada pela inclusão da música de jazz, no âmbito do Festival Gulbenkian.» No dia seguinte, os músicos viajaram até à cidade invicta para um segundo concerto no Teatro Rivoli, às 21h30. Anunciado na imprensa nortenha «caso inédito nos festivais Gulbenkian de Música.» Acrescentando-se que «o êxito foi completo sendo ainda ouvido números suplementares.» O terceiro, teve lugar na cidade dos estudantes, no Teatro Gil Vicente. Igualmente, às 21h30, e foi mais um êxito de bilheteira (aqui).Tal como nos concertos anteriores, o grupo «apresentou um repertório variado, que para além de composições dos seus elementos, integrou ainda clássicos como “Confirmation” de Charlie Parker, “‘Round Midnight” de Thelonious Monk, ou ainda “A Night in Tunisia”, de Dizzy Gillespie.» O quarto e último concerto foi de novo na «pacata Lisboa musical», no Grande Auditório da Fundação durante a tarde. Os jornais destacavam-se o sucesso do grupo «especialmente aplaudido o vibrafonista Milt Jackson pelas suas intervenções solísticas.» Sobre o repertório, escrevia-se que era «constituído por obras de John Lewis, arranjos deste mesmo componente do grupo, de páginas de Gershwin e Purcell, de Thelonious Monk, Dizzy Gillespie, Ray Brown, Charlie Parker e Milt Jackson.» Embora disponível, decidiu-se por não incluir o repertório detalhado do Modern Jazz Quartet nos quatro concertos do festival Gulbenkian, mais por questões de espaço.

Maria Helena de Freitas, dava nota «acontecimento sensacional tivemo-lo também com a actuação do famoso Modern Jazz Quartet, que cultiva um estilo depurado, combinando admiravelmente a disciplina da música de câmara com a espontaneidade e o espírito de improvisação próprios do jazz. De realçar e integrada no festival, foi a realização no Auditório Dois da Gulbenkian, completamente lotado, uma mesa-redonda sobre jazz, na qual participaram Luís Villas-Boas, Manuel Jorge Veloso, José Duarte e o dr. Raul Calado, tendo representado a Fundação Gulbenkian o dr. Carlos Pontes Leça e sido convidado o instrumentalista e compositor Milt Jackson que por varias vezes tomou parte nos diálogos travados.» Fora do(s) palco(s), alguns membros participaram numa jam pela noite dentro.

A jam; o saudoso Manuel Jorge Veloso lembrava esses momentos «como sempre, a malta andava atrás dos gajos, pá, eramos meia-dúzia de gajos carolas,... abarbatámos os gajos, fomos meter-lhes copos e comida, e tal, jantar.» Nessa tertúlia participavam vários membros da comunidade jazzística lisboeta (na época, predominantemente masculina). Sobre esses momentos, Cabrita escrevia «Eram 9 horas da noite. Após o concerto de jazz no aristocrático do auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, nessa tarde, pleno de gente menos hirta, três membros do Modern Jazz Quartet (Milt Jackson, vibrafone, Percy Heath, contrabaixo, e Connie Kay, bateria) reuniram-se num jantar com um grupo de amigos do jazz português.» Veloso completava «o John Lewis, evidentemente, ficou na caminha.»

Depois do jantar, decidiram-se por uma jam. No entanto, o «pequeno templo lisboeta» reservado ao culto do jazz – o Hot Clube – era impossível a reunião que se propunha: o piano tinha ido para arranjar... pensou-se em vários lugares... optou-se por fim, pelo Rádio Renascença como última solução. O José Duarte puxou... o jazz à sua sardinha. Havia um piano, um velho Beckstein que fez «delirar» Milt Jackson. Jorge Veloso lembrou-se que foi «com o Mário Andrea... director do serviço de Otorrinolaringologia no Santa Maria... (que) era vibrafonista amador, (e que) tinha um vibrafone... fomos a casa dele buscar o vibrafone.» A bateria e o contrabaixo foram vieram do Hot. Era uma hora da madrugada. Ligaram-se os microfones (e foram para o ar) «em plena ditadura, na Rádio Renascença da Emissora Católica Nacional.»

«O Jorge Veloso começou a extrair da bateria os primeiros ritmos que iriam desencadear uma das rara noites de jazz em Portugal. O resto foi fácil. O Milt Jackson, tacteando o ambiente, começou a afagar o teclado do velho Beckstein...O Mário Andrea... improvisou um blues com Milt Jackson. Um dos irmãos Barbosas pontuava o ritmo no contrabaixo. A partir daí, a jazz-session aconteceu... José Duarte, de microfone em punho, swingava e mostrava ao País (através do Tempo Zip) a espontaneidade do jazz.» O Tempo Zip era um programa na Radio Renascença, das 24 às 3 da madrugada, realizada pela mesma equipa do seu quase homónimo da televisão, o «Zip-Zip». Nas fotografias que chegaram até aos nossos dias, para além dos mencionados neste artigo, consta, entre outros, Paulo Gil, sentado, contemplando a jam.

Cabrita prosseguia: «A liberdade total que ali acontecia contrastava flagrantemente com o jazz encasacado daquela tarde na Gulbenkian.» Acrescentando que «Luís Villas-Boas, que tinha ido jantar connosco, não participava, infelizmente. Imperativos profissionais forçaram-no a ausentar-se... Estava a seguir tudo pela rádio e, decerto, a sofrer por estar tão longe.» Entretanto, «deu-se a aparição inesperada do pianista brasileiro Marcos Resende. Juntamente com ele, um grande da música brasileira: Gilberto Gil... E assim, dois brasileiros (Gil e Marcos), um português (Veloso) e dois americanos (Milt e Percy) demonstraram na prática que o jazz é uma linguagem universal. Progressivamente, por volta das 2h30 da madrugada, todas as atenções se concentravam no poder de improvisação de Gilberto Gil. Milt e Percy, sentados no chão, estavam verdadeiramente fascinados pela explosiva expressividade de Gilberto Gil. O som livre impunha-se na noite portuguesa.» Veloso, emocionado, relembrava esses momentos «foi uma noite do caraças... estava tudo deslumbrado com aquilo... E depois aparece o Carlos Cruz, também diz umas bocas, e depois fala-se do Festival de Cascais «talvez para o ano haja o Festival de Cascais».

Foram momentos singulares, que tiveram lugar há mais de meio século, em plena “Primavera Marcelista” nos estúdios da Emissora Católica Portuguesa, cristalizados por Augusto Cabrita em “Som Livre na noite Portuguesa”, do qual, se utiliza por empréstimo o título. Ao redigir estas últimas linhas, o autor das mesmas, também (já) com mais de meio século de existência, tentou recordar-se quando é que ouviu, ou se é que alguma vez teve a oportunidade de ouvir, uma jam-session transmitida em directo a partir de uma estacão de rádio em Portugal? E o leitor, recorda-se?

O forte eram (e são) os discos (vários formatos), maioritariamente música gravada (mais recentemente podcasts). Mas hoje, sem censura (directa ou indirecta) sobre os conteúdos radiofónicos (será assim?), com mais (ou não) programas de rádio dedicados ao jazz e outras músicas produzidos em Portugal continental e insular, com centenas de músicos internacionais a circularem regularmente pelo território nacional. E, principalmente, com várias gerações de músic@s portugueses que sabem tocar e muito bem, sempre procurando novos desafios, poderíamos reformular a questão, igualmente provocatória: será que em Portugal, existem programas radiofónicos nos quais músic@s nos estúdios podem tocar jazz (e música improvisada) em directo, ou a sua presença, é (continua) a ser apenas virtual (gravada)?

 

O autor segue a ortografia anterior ao Acordo Ortográfico de 1990.

Sobre o autor:

Pedro Cravinho é cofundador e membro da Direção da Rede Portuguesa de Jazz – área da investigação. Diretor dos Arquivos da Faculty of Arts, Design and Media da Birmingham City University (BCU). Investigador Sénior em Estudos de Jazz no Birmingham Centre for Media and Cultural Research (BCMCR), co-líder do BCMCR Jazz Studies e History, Heritage & Archives Research Clusters. Investigador do CITCEM – Centro de Investigação Transdisciplinar “Cultura, Espaço e Memória” (Portugal) da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Membro das direções do National Jazz Archive (Inglaterra), Scottish Jazz Archive (Escócia), da Duke Ellington Society (Reino Unido) e membro do West Midlands Archives (Inglaterra). Cofundador das conferências internacionais ‘Documenting Jazz’ e autor de diversos textos sobre jazz em Portugal. O último, acabado de ser publicado, “Encounters with Jazz on Television in Cold War Era Portugal: 1954 – 1974” (Routledge, 2022), é dedicado a Manuel Jorge Veloso.

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